5.0 - E o pulso ainda pulsa
Pois é, cheguei aos cinquentinha.
Nem eu acredito, mas tá lá a data de nascimento em todos os meus documentos: 19-10-1960.
Faz tempo mesmo. Na época ainda tavam querendo construir o muro de Berlim, e dez dias depois começaram as transmissões de TV aqui em Curitiba.
Pensando bem, nem doeu nada, e eu não tenho muito do que me queixar da vida.
Fora umas emperebações aqui e ali, no geral me sinto muito bem.
O duro mesmo foi passar a crise dos quarenta. A dos cinquenta veio mais leve e, depois de amanhã, quando imagino que vai começar a crise dos sessenta, vou poder contar procês como é.
A única coisa chata de fazer cinquenta é quando a gente percebe que já percorreu mais da metade do caminho, que está mais próximo do dia de ir embora do que do dia em que nasceu.
E conclui "que não há mais tempo", como diz a letra da música aí abaixo, que ouvi por acaso uns dias atrás e achei que servia bem para descrever o que estou sentindo.

Caras Como Eu
(Titãs)

Caras como eu
Estão ficando raros
Como cabelos ralos
Que se partem e caem pelo chão

Caras como eu
Estão tirando o pé
Andando em marcha ré
Com medo de entrar na contra mão

Como trens do interior
Que não chegam no horário
Como velhos elefantes
Que morrem solitários

Caras como eu
Estão ficando chatos
Como solas de sapatos
Que se gastam com o passar do tempo

Não vou mais medir o tempo
Não vou mais contar as horas
Vou me entregar ao momento
Não vou mais tentar matar o tempo

Como palavras de amor
Que não se guardam em disquetes
Como segredos sem valor
Que a gente nunca esquece

Caras como eu
Estão ficando velhos
Calçando seus chinelos
Concluindo que não há mais tempo

Não vou mais medir o tempo
Não vou mais contar as horas
Vou me entregar ao momento
Não vou mais tentar matar o tempo